Publicado no Guardian
O principal comentarista político do The Daily Telegraph pediu
demissão e lançou um duro ataque contra a gestão e os proprietários do
jornal sobre a sua cobertura da história dos impostos do HSBC, que ele
descreveu como uma “fraude para os leitores”.
Peter Oborne, editor associado do Spectator e um rosto familiar nos
documentário do Channel 4, denunciou que matérias foram deliberadamente
derrubadas sobre respeito do gigante bancário, incluindo revelações da
semana passada que sua subsidiária na Suíça ajudou clientes ricos a
sonegar impostos e esconder milhões de dólares em ativos, a fim de
manter a sua conta de publicidade.
Oborne disse que a cobertura do HSBC pelo Telegraph, colocando os
interesses de um grande banco internacional acima do seu dever de
informar, foi uma “forma de fraude para seus leitores”.
“Há grandes questões aqui. Elas vão direto para o coração da nossa
democracia, e isso não pode mais ser ignorado”, escreveu em um artigo no
site Open Democracy.
Oborne disse que o jornal tinha desencorajado matérias críticas ao
HSBC desde o início de 2013, quando o banco suspendeu sua publicidade
depois de uma investigação do Telegraph sobre contas mantidas em Jersey.
Ele disse que um ex-executivo do Telegraph falou que o HSBC era “o
anunciante que você literalmente não pode se dar ao luxo de ofender”.
Oborne afirma que havia dito a Murdoch MacLennan, executivo-chefe da
empresa controladora do jornal, o Telegraph Media Group, que estava
saindo em dezembro do ano passado. Tinha a intenção de partir em
silêncio, mas surgiu o “dever de tornar tudo isso público” após a
cobertura do HSBC pelo Telegraph, que “precisava de um microscópio para
ser encontrada”.
“A cobertura recente do Telegraph do caso HSBC é uma forma de
fraude”, disse ele. “Foram colocados os interesses de um grande banco
internacional acima do dever de levar a notícia aos leitores. Só há uma
palavra para descrever essa situação: terrível”.
Um porta-voz do Telegraph declarou: “Como qualquer outro negócio, nós
nunca comentamos sobre relações comerciais, mas a nossa política é
absolutamente clara. Temos como objectivo proporcionar a todos os nossos
parceiros comerciais uma gama de soluções de publicidade, mas a
distinção entre publicidade e nossa operação editorial premiada sempre
foi fundamental para o nosso negócio. Refutamos totalmente qualquer
alegação em contrário. É uma questão de enorme pesar que Peter Oborne,
por quase cinco anos um funcionário do Telegraph, tenha desferido um
ataque tão surpreendente e sem fundamento, cheio de imprecisões e
insinuações, contra seu próprio jornal.”
Antes das revelações do HSBC serem publicadas – pelo Guardian e por
uma série de outras publicações, incluindo a BBC -, o banco deixou sua
publicidade com a empresa-mãe do Guardian, a Guardian News and Media,
“em pausa”.
Políticos conservadores e um membro do parlamento de alto coturno
foram listados entre os homens ricos que tinham contas legais na Suíça.
Ed Miliband rotulou David Cameron como “primeiro-ministro espertalhão”
por causa de sua incapacidade de responder a perguntas sobre o caso e a
indicação para um cargo ministerial do ex-presidente do HSBC, Stephen
Green.
Oborne, que entrou no Telegraph há cinco anos, acusou-o de um
“colapso nos padrões” sob seus proprietários, os irmãos Barclay,
reclusos proprietários multi-milionários do hotel Ritz, que compraram a
publicação em 2004.
Oborne disse que a questão do HSBC era “parte de um problema mais amplo”.
“Há tempos é sabido que no jornalismo de qualidade britânico os
departamentos de publicidade e o editorial devem ser mantidos
rigorosamente separados. Há uma grande quantidade de evidências de que,
no Telegraph, esta distinção entrou em colapso “, disse.
Ele descreveu como “bizarra” uma reportagem sobre os protestos por
democracia em Hong Kong e disse que ela foi seguida de um artigo do
embaixador da China, cuja manchete “foi além da paródia”:”Não vamos
permitir que Hong Kong fique entre nós”.
“Três anos atrás, o time de investigações do Telegraph recebeu uma
delação sobre contas mantidas pelo HSBC em Jersey. Essencialmente, este
inquérito foi semelhante à investigação sobre o braço bancário suíço do
HSBC “, disse ele.
“Este foi o momento crucial. Desde o início de 2013, críticas ao HSBC
foram desencorajados. O HSBC suspendeu a sua publicidade”, disse.
“Ganhar de volta a conta de publicidade do HSBC tornou-se uma
prioridade. Ela acabou por ser reconquistada após aproximadamente 12
meses.”
Oborne disse que interferências em histórias que envolvem o banco estavam acontecendo “em escala industrial”.
Ele falou a MacLennan, em um encontro casual na fila de carpideiras
no funeral de Margaret Thatcher, para não tratar os leitores como nada.
“Você não sabe que merda está falando”, foi a resposta.
Oborne diz que avisou MacLennan que estava se demitindo por uma
questão de consciência. “Não é só o Telegraph que está falhando aqui”,
disse ele. “Nos últimos anos temos visto o surgimento de executivos
sombrios que determinam que verdades podem e não podem ser divulgadas na
grande mídia.”
“Os leitores do Telegraph são pessoas sensatas e bem informadas. Eles
compram o jornal porque acham que podem confiar nele. Se as prioridades
da publicidade determinam julgamentos editoriais, como podem os
leitores continuam a sentir essa confiança?”
Ele disse ao Channel 4 News: “Eu acho que o Telegraph precisa
explicar para nós por que sua cobertura do HSBC foi distorcida, e não
apenas para nós. As pessoas que realmente precisam entender isso são os
leitores do Daily Telegraph. Eles são os que confiam no jornal”.
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