Greve geral de jornalista é como umbigo de freira. Ninguém vê. Mas dá para imaginar como seria uma.
Bloquinhos de anotação seriam rasgados e queimados. As pilhas dos gravadores atiradas pelas janelas da redação.
Fotógrafos cegariam. Repórteres de TV e rádio ficariam mudos.
Comentaristas políticos e econômicos também não abririam a boca, o que,
neste caso, seria ótimo, porque alguns falam merda demais.
Não haveria releases, nem follow-up na hora do fechamento. Não haveria também fechamento.
Coletivas seriam canceladas. E, com o filé mignon ao molho madeira de volta ao freezer, a greve seria também de fome.
As moças do tempo cagariam para o sol, para a chuva e para os períodos de instabilidade.
Faixas e cartazes seriam exibidos nas portas das redações: “Pelo fim dos
passaralhos”, “Gilmar Mendes não me representa”, “Pela liberdade de ser
jornalista”, “Abaixo a opressão do deadline” e o clássico “Chega de
piso safado. Porcelanato para todos já”.
Os estagiários, como sempre, seriam escalados para o trabalho chato, como colar os cartazes.
Serviços considerados essenciais numa redação, como o da tiazinha que
passa o café fresquinho, não seriam suspensos totalmente, mas entrariam
em operação-padrão.
Para evitar que seus jornais virassem um grande calhau, os patrões
convocariam gente de outras profissões para salvar a edição do dia. Os
grevistas impediriam o povo fura-greve de entrar nas redações. Haveria
briga. A PM chegaria com bombas de efeito moral e imoral. Tumulto,
correria, e, de repente, eis que o Datena entra ao vivo, mostrando a
confusão com exclusividade e "ferrando" aquela que seria a maior greve
geral de jornalistas que o Brasil já conheceu.
Por
Duda Rangel