quarta-feira, 30 de março de 2011

Último júri de março julga acusado de pistolagem nos anos 1980


Réu apresentou três nomes no processo, fugiu da cadeia e pode já ter sido morto

Um crime de pistolagem ocorrido nos anos 1980, quando Santarém convivia quase que diariamente com homicídios desse tipo, será o caso julgado pelo Tribunal do Júri Popular da 10ª Vara Penal, nesta quinta-feira, 31/03. A vítima Antonio Alves Nogueira, conhecido como "Sitônio" comerciante, cearense, de 53 anos, foi morto com três disparos à queima-roupa desferidos por um elemento que se encontrava de tocaia em um veículo tipo Escort, próximo à sua residência, na Avenida Magalhães Barata, 1070, no dia 21/09/1988. "Sitônio" estava sentado, sem camisa em frente à sua residência quando o homem se aproximou e disparou os tiros. Em seguida, o veículo, dirigido por uma segunda pessoa, saiu em disparada tomando rumo ignorado.

Um mês depois do incidente, foi preso o indivíduo José Ferreira ou Manoel Ferreira, goiano, à época com 33 anos, conhecido pela alcunha de "Burity", foragido da polícia de Itaituba, onde respondia a crimes de pistolagem. Ele se encontrava em um hospital de Santarém recuperando-se de malária, quando foi reconhecido por duas testemunhas que o viram dias antes da morte do comerciante "Sitônio".

Testemunhas ameaçadas - A principal testemunha do caso foi um técnico de laboratório que reconheceu o veículo do assassino como sendo o mesmo que o conduziu da casa do falecido empresário e ex-prefeito de Itaituba, Wirland Freire, a um laboratório de análises clínicas no centro da cidade. O laboratorista esteve na residência do empresário dois dias antes do crime para coletar sangue de um de seus funcionários vindos do garimpo, como fazia periodicamente, e lá teria sido abordado por um homem que se apresentou como Sebastião da Silva, que também coletou sangue e, em seguida, o levou naquele carro até o laboratório.

No hospital, tanto o laboratorista como a atendente do laboratório reconhecerem "Burity", como sendo a mesma pessoa que se apresentou como Sebastião. Por conta disso, sua prisão foi decretada e ele respondia ao crime encarcerado. O ex-prefeito Wirland Freire também foi ouvido pela polícia à época e disse que não conhecia o réu e que talvez este fosse amigo de um de seus funcionários tendo ido visitá-lo em sua residência, momento em que pediu para também fazer coleta de sangue. As testemunhas a serem ouvidas durante o processo disseram que estavam sob ameaça e chegaram a declaram não reconhecer o réu como sendo a mesma pessoa que identificaram antes.

O ex-prefeito Wirland Freire, ao ser ouvido em juízo, declarou que nada tinha contra a vítima, apesar de ter sido informado na delegacia de polícia que haveria uma animosidade entre eles, já que um filho da vítima teria incentivado um filho de Wirland a entrar para o mundo das drogas, o que foi negado por este. Disse também não ter contratado nenhum advogado para o réu, que à época foi defendido por pelo menos dois advogados de renome na cidade.

O réu negou, à época, todas as acusações, dizendo ser apenas um garimpeiro que trabalhava com o comerciante Chico Ceará, num dos garimpos de Itaituba e que por estar com malária veio a Santarém para tratamento, quando teria sido confundido com outra pessoa. Um ano depois de ser preso, José Ferreira, ou Manoel Ferreira, ou ainda Sebastião Silva, vulgo "Burity",fugiu da cadeia local e encontra-se foragido desde essa época. Surgiram informações extra-oficiais de que ele já teria sido morto pela Polícia do Estado do Ceará, entretanto não foram confirmadas oficialmente nos autos, obrigando a Justiça a realizar seu julgamento nesta data.


João Georgios Ninos
Analista Judiciário e Jornalista


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