(Por Idelber Avelar)
Desde que começou a catástrofe em Minas Gerais e, agora, no Espírito Santo, coloquei meus alunos de Introdução à Cultura Latino-Americana — um curso básico de graduação, que inclusive eu não lecionava fazia muito tempo — para catar informação por aí. No caso dessa turma em particular, eles estão na carreira de espanhol, não de português, e portanto não podem ler o que é publicado no Brasil. Estão restritos a material em inglês e em espanhol.
Pois bem, a minha molecada de 19-20 anos de idade, que não domina a língua na qual aconteceu a bagaça, está infinitamente mais bem informada sobre o maior crime ambiental já cometido por uma empresa no Brasil do que quem está se informando pelos jornalões brasileiros.
Todos eles já sabem (e não fui eu quem contou, eles descobriram por conta própria, eu não dei aula sobre isso ainda):
1 – que grandes mineradoras, especialmente a Vale, financiam campanhas eleitorais.
2 – que Minas Gerais é saqueada há dois séculos e meio por essa atividade que pouco a beneficia, gera enormes custos ambientais e remete os principais ganhos ao exterior.
3 – que a licença de uma das barragens já estava vencida desde 2013.
4 – que a empresa está tentando emplacar uma versão mequetrefe de “abalo sísmico”.
5 – que o governador do Estado — eles se assustaram com essa parte! — deu uma coletiva na sede da empresa dizendo que ela já está fazendo todo o necessário.
6 – que Dilma Rousseff não disse nada de relevante até agora.
7 – que a destruição de fauna, flora e solo ao longo da bacia do Rio Doce é coisa gigantesca e incalculável.
8 – que a Vale tem um histórico de desrespeito aos direitos humanos e ambientais.
9 – que a politicada está toda de rabo preso.
10 – que os meios de comunicação de massas no Brasil estão fazendo uma lambança de omissão e desinformação.
e, last but not least:
11 — que o Brasil financiou seus pequenos ganhos de qualidade de vida para parte da população mais pobre na última década à base de uma intensificação da produção de commodities, cuja desvalorização agora está cobrando seu preço.
Nada mau para quem tem 19-20 anos de idade, está restrito aos materiais publicados em inglês e em espanhol e nem teve aula sobre o assunto ainda né? Confere que eles estão mais bem informados que os leitores dos principais jornais brasileiros?
Jornal Sul21
Idelber Avelar é professor de literatura latino-americana e ensaísta.
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